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Comportamento
Sábado - 11 de Fevereiro de 2023 às 07:01
Por: Por Simone Machado, BBC

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Em 2019, Daniele e Gabriel decidiram colocar desejo de adotar uma criança em prática e se cadastraram no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal
Em 2019, Daniele e Gabriel decidiram colocar desejo de adotar uma criança em prática e se cadastraram no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

Desde quando eram namorados, o assunto adoção esteve presente na vida da psicomotricista Daniele Ribas Précoma Moro, de 40 anos, e do gerente de comunicação e marketing Gabriel Moro, 39 de anos. Ela, desde a adolescência, dizia querer adotar uma criança e ele também já havia pensado no assunto.

Os anos se passaram, os dois se casaram e há nove anos tiveram a primeira filha, Alice. Com a vida estabilizada, a família, moradora de Colíder, no norte de Mato Grosso, sentia que ainda faltava algo. Apesar de estarem felizes, a casa ainda não estava completa.

"A gestação da Alice foi tranquila e sem intercorrências. A gente poderia ter um segundo filho biológico, mas o nosso sonho sempre foi ter também um filho adotivo", conta Daniele.


Foi quando em 2019, Daniele e Gabriel decidiram colocar o desejo de adotar uma criança em prática e se cadastraram no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento.

A ideia do casal nunca foi adotar um bebê, mas sim uma criança mais velha. Após passar pelo processo que tornou o casal apto para adotar uma criança, a família então pôde selecionar as características do filho que deseja, como idade, cor de pele e gênero, por exemplo.

Família vive em Colíder, a 648 km de Cuiabá. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

Família vive em Colíder, a 648 km de Cuiabá. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

Após fazer toda a documentação, eles entraram em uma lista de espera que considera a ordem de chegada e as preferências de cada adotante.

"Quando nos cadastramos a Alice já estava com 5 anos e queríamos uma menina em uma faixa etária próxima, de 4 a 8 anos, para que as duas fossem amigas e ter bastante proximidade. Além de que elas pudessem dividir quarto e os brinquedos", recorda Daniele.

Três anos se passaram e a família seguia na lista de espera. A Alice crescia e sua irmãzinha nunca chegava. No entanto, essa situação mudou no ano passado depois que o casal se propôs a adotar uma criança ainda mais velha, de até 12 anos.

"Durante esses três anos não recebemos nenhuma ligação do sistema de adoção. A Alice já estava com 8 anos e então decidimos aumentar também a idade da criança que pretendíamos adotar, até para tentar aumentar as chances de termos a nossa segunda filha", conta psicomotricista.

Gabrielly (à esq.) tinha 11 anos quando foi adotada. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

Gabrielly (à esq.) tinha 11 anos quando foi adotada. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

Como crianças mais velhas pertencem a uma faixa etária menos concorrida, cerca de cinco meses depois a família foi selecionada para conhecer uma menina de 11 anos chamada Gabrielly que vivia em um abrigo e aguardava na fila de adoção.

Por morarem em cidades diferentes, os primeiros contatos foram por fotos. Depois começaram as videochamadas. Conforme os laços iam se estreitando, foram autorizados visitas e passeios aos finais de semana. Até que, em outubro de 2022, Gabrielly ganhou um novo lar.

"É como uma gestação, a gente vai passando por diversos processos e quando finalmente chega o dia de a gente receber essa criança em casa é uma alegria imensa. Desde quando conhecemos a Gabi, teve uma identificação e um amor gigante entre todos nós, não tinha como não ser ela a nossa segunda filha", diz Daniele.

Lista de espera

Daniele e Gabriel sempre desejaram adotar uma criança. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

Daniele e Gabriel sempre desejaram adotar uma criança. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal


Acompanhamento psicológico

A mãe conta ainda que durante todo o processo — desde o cadastro no sistema de adoção até conhecer pela primeira vez a criança selecionada — Alice sempre esteve presente e sempre fez parte de todo o contexto que inclui a adoção. Situações que a fizeram aceitar muito bem a nova irmã mais velha.

"Elas são muito parceiras, brincam o tempo todo juntas e estudam na mesma escola. Andam de bicicleta, patins, correm pela casa, aonde uma vai a outra vai junto. Claro, que vez ou outra tem um ciúme, mas é coisa de irmão", acrescenta.

Além disso, para lidar com todas as mudanças que a chegada de uma nova criança no lar exige, a família fez questão de que as duas crianças tivessem um acompanhamento psicológico.

"Agora, sim, a nossa família está completa com nossas duas filhas. A gente não lembra mais como era as nossas vidas antes da Gabi chegar", complementa.

Daniele Ribas Précoma Moro e suas duas filhas, Alice e Gabrielly. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

Daniele Ribas Précoma Moro e suas duas filhas, Alice e Gabrielly. — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal


Adoção tardia no Brasil

Dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, mostram que no ano passado 362 crianças com mais de 12 anos foram adotadas no país. O número representa 10% das 3.608 adoções registradas no período.

Atualmente as crianças acima de 12 anos que aguardam um novo lar somam 2.085 representando quase a metade das crianças aptas para adoção, que são 4.227. Por outro lado, aquelas com idades entre 2 e 4 anos representam quase 50% daquelas que ganham uma nova família. Uma criança é considerada apta para adoção quando todo o processo de retirada dela da família biológica é concluído.

Ainda segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, quase 33 mil (32.913) pretendentes aptos estão na fila para adotar uma criança no país, número maior do que o de crianças que vivem em abrigos no país, 31.256.

Essa conta só não fecha porque a grande maioria dessas pessoas adotantes (26.490) aguardam por uma criança entre 2 e 6 anos. E apenas 786 delas informaram ao sistema o interesse por crianças maiores de 10 anos.

As pessoas interessadas em adotar uma criança passam por um processo de habilitação à adoção com palestras e entrevistas com psicólogos. Se forem consideradas aptas, elas farão parte de um cadastro nacional unificado, onde os dados são cruzados com as crianças que estão na fila aguardando um lar.


Gabrielly e o cão da família — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

Gabrielly e o cão da família — Foto: Família Précoma Moro/Arquivo Pessoal

"A espera por adotar uma criança nessa faixa etária de 2 a 4 anos, que é a mais buscada, pode demorar até 4 anos. Já quando falamos de crianças mais velhas, acima de 10 anos, esse tempo é reduzido a quatro, seis meses, porque elas são muitas e há poucos adotantes que aceitam perfis mais velhos", diz Noeli Reback, juíza e presidenta do Colégio de Coordenadores da Infância e Juventude dos Tribunais de Justiça do Brasil.

Para mudar essa realidade, os Tribunais de Justiça do país têm realizado trabalhos de conscientização e também de aproximação dessas crianças que precisam de um lar com a sociedade, como os projetos de apadrinhamento.


"Essas crianças precisam ser vistas para serem lembradas. Além disso, quando a colocamos em contato com as pessoas vai mudando um pouco aquela visão que a sociedade tem sobre elas. Estamos tendo um avanço com relação à adoção tardia, mas ele ainda é tímido", acrescenta a juíza.

Nos últimos quatro anos 13.966 foram adotadas no Brasil, desse total 7.927 tinham idades entre 2 e 8 anos e 4.964 eram maiores de 9 anos.

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